Traci Lords - Love Never Dies
Por muito tempo procurei essa faixa, cantada pela lendária Traci Lords; provavelmente, mais conhecida por outros dotes que não os de cantora. Que seja, então. Agora, nessa Love Never Dies, que faz parte da trilha sonora de Cemitério Maldito 2 (Pet Sematary II, 1992), ela chega com tudo, trazendo uma sonoridade alternativa bem a cara dos anos 90. Somando-se ao resto da trilha sonora rock & roll do filme, e resultando na mistura de sentimentos que é essa história do além túmulo.
Há quem torça o nariz para essa sequência, mas acho uma falta de visão das coisas. Se no original o que dominava era uma atmosfera de areia de túmulo, onde você podia quase sentir o cheiro da morte, nesse segundo o horror é sustentado por um lamento de perda e saudade do que amamos. A cena da morte de Zowie, por exemplo. Enteado do áustero xerife Gus Gilbert (Clancy Brown), o garoto Drew senta-se ao lado de seu cachorro Zowie, atingido com um tiro disparado pelo próprio padrasto. E sentado ao pé de uma árvore, no frio da noite, aguarda o momento final para o cão, mortalmente ferido em seu colo. Tudo isso ao som de Fading Away da Jan King. A história é permeada por esses momentos. Quem não viu, recomendo engajadamente.
Um dos maiores desafios para o horror é justamente unir elementos aterrorizantes com densidade de sentimentos. O horror, a partir daí, se torna mais poderoso, fixando-se em nossa alma quando o desfrutamos. Gostei muito do recente Heartless, mas nesse não vemos uma típica história de terror. E naquele comecinho de década de 90, foi isso que Mary Lambert nos deu: uma típica história de terror, mas que pode nos tocar de maneira mais profunda. Não deixou de ser uma feliz experimentação por parte de Lambert, e ainda acho um filme muito bom, bem acima da média dentro do gênero. Nem preciso falar "até os dias de hoje", porque a linha de horror que me interessa morreu há muito tempo.